ESTRUTURA & EVENTOS – Uma vez no seriado White Collar (recomendo), o Neal precisava de uma identidade falsa para fugir, mas não podia ser qualquer identidade, tinha que ser perfeita. Então ele encontrou um homem que cultivava identidades: pegava certidão de nascimento de bebês mortos (é, eu sei…) e as alimentava no decorrer da vida, conforme eles cresciam; com cartões de biblioteca, contas bancárias e formulários de seguro.
Toda essa história só pra dizer que o seu personagem precisa ser assim. Uma coisa que sempre admirei na J.K. Rowling foi sua capacidade de criar árvores genealógicas inteiras para os seus personagens. Para além da questão de que traçar um perfil físico, sociológico e psicológico ajuda bastante a não se perder e principalmente a não entrar em contradição, é muito importante que seu personagem tenha uma vida para que você consiga estruturar e ambientar sua estória.
Mas Luma, preciso contar a história de vida toda do meu personagem? Claro que não! Segundo Mckee em Story: A marca do mestre é selecionar apenas alguns momentos, mas nos dar uma vida inteira (p.43).
ESTRUTURA
Então, vamos falar um pouco sobre estrutura. Eu demorei um pouco pra pegar essa ideia então hoje vamos falar apenas o básico.
Lá em A Poética, Aristóteles observou as peças teatrais gregas e percebeu que todas as histórias seguem o padrão: prólogo, episódio e êxodo, ou seja, começo, meio e fim, também conhecido como estrutura de três atos (depois voltaremos a falar sobre ato).
Para Mckee: “A estrutura é uma seleção de eventos da história dos personagens, composta em uma sequencia estratégica para estimular emoções específica, e para expressar um ponto de vista especifico”. (p.45)
Alguns autores defendem a seguinte divisão: apresentação 25% da história, detonante 50% e resolução 25%. Eu particularmente acho uma boa métrica.
EVENTOS
A estrutura é montada através de eventos – mudanças significativas na vida dos personagens que devem ser experimentadas em termos de valores.
Valores são qualidades universais que mudam de positivo para negativo e vice-versa. Por exemplo: amor e ódio, vida e morte, liberdade e escravidão.
Perceba que eu falei mudanças significativas na vida dos PERSONAGENS. Vamos exemplificar tudo: se eu escrevo a rua estava molhada, imagina-se que um evento ocorreu para que ela esteja molhada (choveu). O mundo mudou de seco para molhado. Esse exemplo é interessante para mostrar que eu não preciso contar TUDO para que haja compreensão do que ocorreu. Porém, essa não é uma mudança que aconteceu com o personagem e sim com o ambiente, portanto dizer que a rua está molhada não é um evento, mas dizer que o personagem se encontra ensopado, sim.
CONFLITO
Além disso, não se constrói estórias através de eventos acidentais. A mudança deve ser motivada por conflito e a partir daí, forças opositoras podem querer a mesma coisa ou coisas diferentes. É o conflito que dita o ritmo da sua estória. Mas isso é assunto para outro post.
Em resumo: a história do seu personagem importa para que você estruture a sua narrativa em início, meio e fim, através de mudanças em termos de valores positivos e negativos motivadas por conflito.
Ontem tentando colocar essas ideias num texto, comecei reler O Acordo:
Hannah está na faculdade admirando o crush que nunca a notou, enquanto a professora distribui notas baixas para toda a turma, exceto a dela. Apesar de achar o garoto tudo de bom, Hannah sente que nunca vai ser notada, ela não tem coragem de tomar iniciativa pois foi estuprada anos antes. No final da aula, algo na sala chama a atenção do rapaz, ele olha para ela e acena antes de ir embora. Ela fica esperançosa e feliz por ser notada. (evento)
Evento: ela começa o capítulo cabisbaixa em sem confiança e termina feliz esperançosa, fantasiando um encontro.
anotando dicas da blogueira famosa que mais gosto
Obrigada, amiga!