[SEM DATA] ALVORADA, TO
24.02.2025

Querida Evinha, boa noite, amor!
Eis-me nesta sossegada cidade de Alvorada. Uma cidade que encontrei adormecida às nove horas da noite. Começo amanhã meu trabalho, espero que corra tudo bem, embora os negócios estejam um pouco parados. Estou meio melancólico, mas isso passará, espero.

Ah! Escrevo para “aquela que me medita. Ela sonha e esse sonho sou eu.” E depois, quando em mãos, não se tem papel para transmitir ideias – cria-se condições, mesmo sendo inapropriadas são válidas.

Como alma perdida, na escuridão da noite, vaguei pelos cumpridos corredores do hotelzinho de 2ª classe, onde sem luz passo a noite. Queria escrever-lhe mas não tinha papel, resolvi então sair em busca. Tateando pelos corredores batia na porta da direita e da esquerda:
— Me arruma uma folha de papel? E a resposta:
— Não tenho.
No finalzinho do corredor encontrei estas folhas de caderno. Ufa! que alívio.

E agora, eis-me aqui, sentado a sua frente. Cigarro nos lábios, papel e caneta a mão, rosto inclinado – e as ideias? Sumiram!!!

De todos os defeitos que trago comigo, o menos elogiável é sem dúvida, a falta de conhecimentos, os demais são imperdoáveis, mas fazem parte da vida e as pessoas podem até compreendê-los.

…Um rosto inclinado que pensa. Pensa em você e só sabe dizer: “Evinha” “Evinha” “meu benzinho” “Meu benzinho” “Eu te amo “Eu te amo”.

Pretinha querida, quando na 2ª feira que sai dai, vim dormir em Guaraí, onde vendi 250 mil. Na 3ª, dormi em Miranorte, onde vendi 160 mil. Na 4ª, fui à Lagoa da Confusão, mas na volta dormi em Cristalândia. E hoje 5ª, aqui estou em Alvorada, de onde lhe escrevo.

Não consegui encontrar a Terezinha. Falei com o pai dela -sr. Plandô. Mas o cano foi confirmado. Adeus tutú!

Quanto a mulher de Alvorada, prometeu arrumar o dinheiro de hoje até 2ª feira próxima.

O Gabriel foi embora, ele me aborrece um pouco, mas quando ele vai, sinto falta. Talvez seja a falta de seus enjoamentos.

Evinha, nós, os homens, tomamos ares importantes, mas conhecemos, no intimo do coração, a hesitação, a dúvida, a tristeza…

O Gabriel está terrivelmente abatido… Os negócios… A Aninha etc. etc. Pediu-me ele, que arrumasse 250 mil em cheques dos meus fregueses e + 250 mil quando for ao Mato Grosso, totalizando 500 mil, em troca da variante. Tive de aceitar. Agora temos dois carros, mas fico devendo as firmas.

Diante das dificuldades para concretizar nossa união. Diante dos prejuízos que venho tomando, senti um pouco em duvida, mas acabei por topar a parada, porque penso que “o viajante que sobe uma montanha na direção de uma estrela, quando se deixa absorver pelos problemas da escalada, está arriscado a esquecer qual estrela o guia”. Se só age por agir, não irá a parte alguma. E eu não quero esquecer a minha estrela, porque sem você não irei a parte alguma. Talvez este negócio, um pouco arriscado, seja a solução mais rápida para nós. Queria que minha “estrela” tivesse confiança em mim e não pensasse que estou acomodado, como você vem pensando.

De outra parte penso que, a zeladora de uma igreja, quando se preocupa demasiado com a disposição das cadeiras, está arriscada a esquecer que serve a um Deus. Assim, prendendo-me demasiadamente a ideia de só arrumar o dinheiro para o casamento, estou arriscado a esquecer a noiva.

Evinha, inclinado sob a luz da vela já queimei o cabelo duas vezes, mas é por causa da fumaça do cigarro que tenho picumã no nariz.

Meu benzinho, tenho tentado disfarçar minhas preocupações, mas a verdade é que, estou constantemente envolvido pelas próprias condições do aborrecimento. E entretanto, divindades invisíveis constroem-nos numa rede de direções, de declives e de sinais, numa musculatura secreta e viva. Não há mais uniformidade. Tudo se orienta. Até mesmo um silêncio em mim, não se parece com outro silencio.

Sabe, Evinha, pensando bem, há um silêncio de paz, quando estou escrevendo a você, quando a noite traz sua frescura e parece que a gente para num porto seguro, como sua presença amiga e companheira. Há um silencio do meio dia, quando o sol impede os pensamentos e os movimentos. Há um falso silêncio, quando você está distante, porque conheço de perto a religião interior. Há um silêncio de conspiração, quando se sabe que as pessoas tentam fazer sua cabecinha contra mim. Há um silêncio de mistérios, quando os inimigos que a gente pensa ser amigos se reúnem e confabulam para saber nossas vidas. Há um silêncio tenso, quando estou longe e me veem temores de que jamais voltarei a vê-la. Um silencio agudo quando, a noite, a gente prende a respiração para escutar. Um silencio melancólico, se a gente se lembrar do que ama.

DISCLAIMER

Encontrei algumas cartas que meu pai escreveu para minha mãe, essa estava sem data mas desconfio que seja no início dos anos 80.

AQUELA EM QUE EU NÃO SABIA O QUE ESCREVER
17.02.2025

Queria escrever, mas dai tomei muito café e em troca recebi muita tremedeira. Dessas que chacoalham a gente por dentro, sabe? Vão querer dizer que é ansiedade, mas eu não deixo. Estou com vontade de chorar, mas não é angústia, aquele choro ruim… É só vontade mesmo, de tédio. Tem dias que eu tô assim, sento na cama e falo: vai, Luma, eu deixo você chorar, dai não choro e vou lá arrumar meu quarto que tá uma bagunça. Talvez se eu assistir uma comédia romântica bem água com açúcar resolva.

Me sinto mal por ter o blog há dez anos e não saber mais como usá-lo. Antes tinha resenha, foto, livro, tudo, nada e era bom, agora estou confusa, então resolvi fazer texto porque queria contar como foi meu dia ou sei lá, só falar sobre as coisas da vida mesmo.

A primeira coisa é que eu comecei reparar que ando muito resistente pra gostar das pessoas. É que eu não quero me machucar e eu sei que isso é inevitável, sofrer faz parte da experiência, mas não sei, tanto tempo de coração fechado me deixou desconfiada e me parece tão cansativo isso de gostar. Tem que pensar se é reciproco, tem que pensar em como ou por que, tenho que pensar no que digitar, não sei se sou carinhosa o suficiente ou se estou sendo fria demais… Sabe, eu achava que quando fosse pra valer, não teria como fugir, achei que fosse mais simples, com 17 anos, era.

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ESTRUTURA
23.04.2024

Estrutura – Estou escrevendo um livro de acordo com o livro Manual Do Roteiro do Syd Field e vim compartilhar com vocês um pouco do meu processo. No primeiro capítulo Field nos fala sobre a diferença entre:

Romance: a ação dramática, geralmente acontece na mente do personagem principal.
Teatro: a ação ocorre na linguagem da ação dramática; que é falada em palavras.
Filme: meio visual que dramatiza um enredo básico.
Roteiro: história contada em imagens, diálogos e descrições, localizada no contexto da estrutura dramática.
Então um roteiro é basicamente uma pessoa > num lugar > vivendo suas coisas.

O roteiro tem uma forma: início, meio e fim.
Isso é o que chamamos de estrutura ou structura: construir / organizar e agrupar elementos diferentes / relacionamento entre as partes e o todo.
Eu explico: sabe um jogo de xadrez? Bom, ele é composto de quatro partes: o jogador, as peças, o tabuleiro e a regra, quatro partes essas que se unem em prol de um todo: o jogo de xadrez. Isso é uma estrutura.

Um paradigma é um exemplo, um modelo conceitual… Por exemplo: uma mesa é um paradigma. Um tampo que se apoia em quatro pernas. A partir dai, pode ser uma mesa baixa ou alta, redonda ou quadrada, de vidro ou madeira… de qualquer forma, o paradigma não muda, uma mesa continua sendo um tampo sustentado por quatro apoios. Vejamos então o paradigma do roteiro:

Esquema retirado do livro Manual do Roteiro

Considerando que o livro fala sobre roteiro de filme, é dito que uma página corresponde a um minuto de filme, ou seja, um filme de 120 minutos corresponde a um roteiro de 120 páginas. Vejamos:

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COMO VOCÊ DEMONSTRA AFETO?
26.01.2023

Como você demonstra afeto?

Vi tal coisa e lembrei de você!
Eu tenho poucas certezas na vida, uma delas é que não tem um ser vivo no universo que não goste dessa frase.

Sabe quando você começa a se apaixonar e tudo lembra a pessoa e você quer que ela esteja ciente disso, mas também não quer parecer psicopata e o friozinho na barriga é crescente e constante?
Eu amo essa sensação.

Acho que esse é um bom exercício para se dar a devida importância.

Alguém gosta do que você escreve, alguém curte as suas fotos, o cheirinho de café à tarde parece tu, quando toca Los Hermanos você é o primeiro pensamento que vem, sabem que você ama aquele livro.

Alguém pensou muito em você hoje. E ai, como você demonstra afeto?

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ROTINA BOA PRA QUEM?
12.01.2023

Rotina – Como você aproveita o seu dia?

Tempos atrás me deparei com um nicho interessante na internet, era o tal de Como Ser Aquela Garota.

Aquela garota é disciplinada.
Acorda cedo, toma smothies, se exercita, faz skincare, lê, estuda, faz refeições saudáveis e usa uma paleta de cores minimalista.
Eu não me engano, adoraria ser aquela garota.

Foi então que me deparei com uma série de cronogramas de rotina e minha reação foi rir um pouco. Óbvio que a rotina é perfeita. Mas perfeita pra quem?
Não encontrei as minhas oito horas de trabalho, a faxina da casa e nem um encontro com amigos.
A rotina perfeita é morar no quarto tendo companhia uma coleção de stabilo boss ou será que a desorganizada do rolê sou eu?

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FELIZ ANO NOVO!
02.01.2023

Feliz Ano Novo! Já falei algumas vezes que, como boa virginiana, dias primeiros me interessam muito.
Dia um que cai em um domingo, então… Dia um que cai num domingo e ainda em janeiro, fala sério! Não tem como dar errado.

Algumas pessoas olham torto quando veem minha excitação entre o último e o primeiro minuto, como se tudo fosse mudar com pó de pirilipimpim, como se algo grandioso e mágico fosse acontecer ali naquele breve minuto entre 23h59 e 00h00.

Amargurados.

A excitação do que é novo sempre me emocionou: o frio na barriga do primeiro encontro, a ansiedade antes de uma grande viagem…
O ano novo é assim pra mim: um romance desajeitado cujo a gente quer muito que dê certo, mas que não temos verdadeiramente como saber, pois não o conhecemos direito.

O ano novo é um espelho, nada mais é do que você refletir a si mesmo enquanto promete parar de fumar.
Muito se fala sobre querer… Para esse ano eu quero, quero, QUERO. Q-U-E-R-O. Mudar de emprego, chutar o boy, ser independente… Até quando dura a tua promessa?

Bom, eu QUERO atravessar. Não fiz grandes planos para o ano todo, apenas doses homeopáticas, todo mês um bocado: não beber, ir pra academia, ler, escrever, estudar e sobreviver já está ótimo.

Espero sua companhia por esses dias 😉
Feliz ano novo!

RAPHAEL MONTES
18.07.2022

Raphael Montes – Em uma noite insone de 2014 me deparei com o Jô Soares entrevistando esse carinha de vinte e três anos que estava lançando o segundo livro, intitulado Dias Perfeitos.

Eu tinha a mesma idade e tinha acabado de lançar o meu primeiro livro, então o Raphael Montes se tornou uma referência pra mim; não pelos livros que eu ainda não conhecia, apesar de terem sido lançados por editoras grandes, mas pela segurança com que ele se portava.

No dia seguinte, corri e comprei Suicidas, seu primeiro romance, escrito quando ele tinha entre 16 e 19 anos (então, né gente?) e que concorreu a alguns prêmios. O livro de 488 páginas com o final mais fodástico das histórias do mundo, fez eu o admirar ainda mais pela completa ausência de vergonha em todas aquelas páginas. Enquanto eu sofro pra escrever uma reles cena de sexo, ele, sem dúvida, flerta com assuntos tabus de uma maneira escandalosa.

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O DIA PERFEITO
04.01.2022

O dia perfeito – Essa era proposta de escrita do meu planner na semana dos dias 3 a 9. Não é a primeira vez que eu estou sendo confrontada com essa proposta, mas nunca soube de verdade o que poderia falar.

Era preconceituosa com minha ideia desse dia porque parecia preguiçoso e a outra versão apesar de parecer perfeita, não me fazia feliz. Então, parei para ouvir meu coração e escrevi sem pensar em seguir um cronograma, só deixei rolar.

No meu dia perfeito, o trabalho seria extinto rs, eu não sou uma pessoa matutina, longe disso, mas acordaria cedo e tomaria café da manhã (outra coisa que não costumo fazer) em uma mesa farta, cheia de cores, sabores e texturas, tipo o brunch de Gossip Girl. Então iria pegar sol, abraçaria os meus queridos e cozinharíamos juntos (sim, muita comida no dia perfeito), faríamos compras e ficaríamos perto da água nos servindo de drinks refrescantes para ficarmos mais alegres. O meu dia seria recheado de cochilos, músicas e risadas.

Talvez fosse uma cachoeira, esses dias estive em uma e só consegui pensar: se existe um Deus, é aqui que ele vai me ouvir. Foi simplesmente mágico! E você, o que pensa sobre o seu dia perfeito?

ESTRUTURA E EVENTOS
01.09.2021

ESTRUTURA & EVENTOS – Uma vez no seriado White Collar (recomendo), o Neal precisava de uma identidade falsa para fugir, mas não podia ser qualquer identidade, tinha que ser perfeita. Então ele encontrou um homem que cultivava identidades: pegava certidão de nascimento de bebês mortos (é, eu sei…) e as alimentava no decorrer da vida, conforme eles cresciam; com cartões de biblioteca, contas bancárias e formulários de seguro.

Toda essa história só pra dizer que o seu personagem precisa ser assim. Uma coisa que sempre admirei na J.K. Rowling foi sua capacidade de criar árvores genealógicas inteiras para os seus personagens. Para além da questão de que traçar um perfil físico, sociológico e psicológico ajuda bastante a não se perder e principalmente a não entrar em contradição, é muito importante que seu personagem tenha uma vida para que você consiga estruturar e ambientar sua estória.

Mas Luma, preciso contar a história de vida toda do meu personagem? Claro que não! Segundo Mckee em Story: A marca do mestre é selecionar apenas alguns momentos, mas nos dar uma vida inteira (p.43).

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COMO ME INTERESSEI PELA ESCRITA?
27.08.2021

Escrita – Eu achava que tinha uma resposta pra essa pergunta, mas comecei pensar um pouco e vi que, na verdade, essa é uma longa história.

Acho que é verdade quando dizem que todo bom escritor é antes de tudo um bom leitor e acho muito engraçado como as coisas são: nem todo bom leitor se torna um escritor; mas todo bom escritor é um bom leitor (será?).
Eu aprendi a ler escrever antes de entrar na escola, lembro da Luminha deitada no chão lendo as revistinhas da Turma da Mônica, depois as piadinhas da revista Recreio, as dicas da revista Capricho e por fim, as curiosidades da Super (sim, eu amava revista). Depois dessa maratona, vieram o suprassumo das crianças dos anos 90: os livros do Harry Potter.

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MAIS BRILHANTE QUE O SOL 2
17.06.2021

Mais Brilhante Que O Sol 2 – Acordo com o pijama grudado no corpo e a boca mais seca que o Saara, pelo visto os remédios que engoli antes de dormir fizeram efeito. Ao meu lado, Miguel dorme a sono solto e por cima do seu ombro enxergo o relógio mostrando que são quase onze da noite.

       Levanto rápido e minha cabeça pede para eu ir devagar. Minhas roupas estão emboladas na porta do banheiro, uma pequena contribuição para o caos que está o apartamento. Encontro meu celular no bolso da calça jeans e assim que aperto um botão qualquer quase sou cegada pela luz e minha cabeça volta a reclamar.

Vi: Como você está? Mandei as notas das provas no seu e-mail.

       Ignoro a necessidade de tomar banho e me arrasto até a sala onde joguei minha mochila mais cedo, olho várias vezes como se fosse possível deixar passar despercebido um notebook de vinte polegadas dentro dela. Que ótimo! Esqueci na escola.

Ando de um lado para o outro roendo as unhas e então vejo o notebook do Miguel largado na mesinha de centro. Sem pensar duas vezes, abro o aparelho e espero ansiosa para que não tenha senha, mas como nada está ao meu favor, tem. Tento várias combinações: data de aniversários, o nome do cachorro. Nada. Minha última tentativa: Pgigante22 – meu namorado é idiota. Esse é o nome dele em um desses jogos online, ri muito no dia que descobri e mal acredito que a senha ridícula me concede acesso. Há várias abas abertas, ignoro todas e começo trabalhar.

Termino dois minutos antes da meia noite e sorrio de orelha a orelha pelo grande feito. Ligo para Vitória, tenho certeza de que ela ainda não foi pra cama e isso se confirma quando ela atende no segundo toque.

LEIA O PRIMEIRO CAPÍTULO AQUI.

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BLOG & ESCRITA
15.06.2021

Blog & Escrita – Eu já falei algumas vezes sobre como é ter um blog: já contei a história, já expliquei os termos técnicos, já me apresentei, vocês já estão carecas de saber… Mas acho que vocês não sabem o bem que esse diário eletrônico me causa, da relação blog & escrita.
Eu pude exercitar a minha escrita das mais diversas formas aqui, seja falando sobre livros, seja explicando uma maquiagem ou mostrando um trabalho da faculdade.

Escrever sempre foi natural para mim. Eu não entendia a admiração das pessoas quando eu contava que publiquei um livro. Para mim escrever é uma coisa simples e não uma habilidade super especial.
Sempre quis escrever algo que tocasse as pessoas, que as inspirasse… Honestamente, acho que ainda não cheguei lá e parte disso se dá porque de nada serve um bom texto se você não coloca sentimentos.

“Great writing. No story.”

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