Li Amor Amargo há uns dois meses, mas só agora arrumei forças para falar sobre essa leitura que foi, pra mim, um mix de sensações.
O último ano da estudiosa Alex se aproxima e ela pretende viajar com seus dois melhores amigos para o Colorado, o mesmo destino que sua mãe procurava antes de sofrer um acidente fatal. Tudo estava certo e minimamente planejado. Mas ai o Cole apareceu. Cole, o astro dos esportes, um cara sensível, encantador e divertido. Bom demais pra ser verdade, foi a primeira coisa que Alex pensou quando o garoto começou a dar bola pra ela… Então eles começam namorar sério e ela começa conhecer a verdadeira face do namorado.
“Eles não entendiam Cole. Não entendiam o que eu sentia por ele. Não entendiam que certas coisas, como seu jeito de me acariciar e de me olhar nos olhos, cheio de ternura, não desapareciam de uma hora para outra só porque ele tinha ficado nervoso e perdido a cabeça.”
Amor Amargo foi escrito a partir de pesquisa que a Jennifer Brown fez em uma faculdade sobre violência doméstica. Com base nos dados, ela levantou a seguinte questão: quando você pergunta para uma pessoa se ela se submeteria a um relacionamento abusivo, todas as respostas são não.
Com isso na cabeça, ela começou a refletir que se a resposta é sempre não, então como pode existir tanta gente passando por essa situação? Aprofundando seus estudos, ela sentiu falta de saber, nos livros de psicologia, o que se passa no coração de uma pessoa que está sendo vítima de um relacionamento abusivo.
Alex tem 16 anos e não conseguiu superar a morte da mãe, que morreu em um acidente quando ela tinha apenas 8 anos. Ela mora com o pai que é totalmente desinteressado… Essa foi a primeira coisa a me desapontar nesse livro, senti que a autora tentou justificar a suscetibilidade da Alex por causa da situação de abandono, quando acredito que uma pessoa não precisa necessariamente sofrer um trauma para entrar em um relacionamento abusivo, ela pode simplesmente amar demais a pessoa e não consegui se livrar desse sentimento.
“Ainda que estivesse magoada, constrangida, humilhada e indignada pelo que tinha feito comigo, continuava louca de amor por ele. Continuava pensando que tínhamos sido feitos uma para o outro. Continuava desejando-o. Eu tinha estragado tudo.”
Então, depois da morte da mãe, Alex ficou obcecada pela viagem de carro que a levaria até o Colorado, destino para onde sua mãe seguia quando sofreu o acidente. Para isso, ela conta com a ajuda de seus dois melhores amigos, Zach e Bethany, que planejavam minuciosamente essa viagem com ela. Muitas pessoas acharam a amizade entre eles conflituosa, mas eu gostei bastante. A Alex não teve coragem de compartilhar com eles o que estava acontecendo, o Zach demonstrava mais preocupação do que a Bethany, que optou por não dar muito pitaco… Na vida real é assim, gente. Temos vários tipos de pessoas e situações e do livro, foi a parte que menos me incomodou, mas isso não significa que eu não senti raiva.
Tudo estava nos eixos, até Cole aparecer e começar se infiltrar na vida de Alex. Bonito, charmoso, atleta… Como não se apaixonar? Com o tempo, porém, ela vai conhecendo uma versão bem diferente do namorado que costumava afirmar que eram feitos um para o outro. Cole é um personagem muito bem construído. Primeiro, a fala mansa, super carinhoso… Até que parte pra cima dela pela primeira vez, ai vem com aquela conversa mole de que sente muito e que nunca mais vai acontecer… Mas acontece repetidas vezes e seu discurso muda. Ele fala que ela está exagerando, que não queria bater nela, mas que ela faz ele perder a cabeça, que ele não quer machucá-la mas que ela se faz de louca e que aquele machucado não é tão grave assim.
Apesar de ter achado ele um bom personagem, a mesma coisa que me incomodou na Alex, me incomodou nele. Justamente o fato de ele ser estereotipado como o garoto que cresceu vendo o pai sendo abusivo com a mãe. Tá, concordo que isso é sim um fator relevante, mas o mundo tá cheio de leão em pele de cordeiro que vive uma vida perfeita e faz o tipo de coisas que o Cole faz com a Alex por puro sadismo.
“Ficamos assim por um bom tempo. Ele sussurrando coisas. Pedidos de desculpa. Justificativas. Promessas. Eu sem condições de absorver nada. Ora acreditava no que me dizia e ora não. Sentia raiva e pena de mim mesma. As palavras não tinham significado. Não havia passado nem futuro. Era como se só este momento existisse e, se sobrevivesse a ele, tudo ficaria bem.”
A Alex sente vergonha, ela não que ser taxada como a garota que apanha do namorado e vai deixando a situação fugir do seu controle. Apesar de o livro se curto, conseguimos acompanhar bem o que se passa na cabeça dela. O quanto ela se apaixonou por ele e a importância que ela dá a esse sentimento, o fato de ela ignorar as coisas pequenas e perdoar as grandes por simplesmente não saber o que fazer. Os amigos se distanciando e ela tentando segurar tudo aquilo…
Li algumas resenhas antes de vir aqui conversar com vocês, mas já me arrependi. Vi várias pessoas irritadas com a Alex, porque afinal de contas ela é uma burra que não dá conta de se livrar do namorado abusivo. Eu senti muita aflição lendo esse livro porque por mais que eu não tenha passado por uma situação dessas, eu sei que não é fácil. O Cole manipulava muito bem, ME manipulava inclusive… Fiquei bastante sentida com a leitura.
“Amedrontada demais para correr. Pasma demais para continuar de pé. Machucada demais para ser corajosa.”
Então, achei essa leitura muito importante porque acrescentou bastante coisa na minha vida e me ajudou a lidar com alguns preconceitos, desconstruiu e muito meus julgamentos. É um livro para sentir na pele, se colocar no lugar e se deixar engolir pelo o furacão de emoções que ele te trará.
Ficha do Livro
Título: Amor Amargo
Autor: Jennifer Brown
Editora: Gutenberg
Número de páginas: 256 páginas
♥ Minha nota para o livro: 5 / 5 estrelas + favorito da vida ♥