Em Babygirl, Romy é uma poderosa CEO de 57 anos que tem todos os aspectos da sua vida sob controle: um casamento sólido, filhas amorosas e uma empresa de sucesso. Uma mulher bem-sucedida. No entanto, em um dia aparentemente comum, algo a desestabiliza. A caminho do trabalho, ela se depara com um cachorro feroz correndo em sua direção. O terror dura apenas alguns segundos, pois um assovio corta o ar e o animal muda de curso indo na direção oposta para receber petiscos das mãos de um rapaz. Esse rapaz é Samuel, um estagiário da empresa de Romy. Pouco se sabe sobre ele, exceto que suas atitudes são atrevidas e desafiadoras.
Desde o início, o filme deixa claro que, apesar de Romy ter o mundo aos seus pés, algo lhe falta: o direito ao orgasmo. Na cena de abertura, vemos um momento ardente entre ela e seu esposo bonitão, mas quando o sexo termina, Romy se dirige apressadamente ao escritório e, sozinha, alcança o clímax assistindo a um filme pornográfico.
O QUE EU ACHEI?
Mas sobre o que é Babygirl, afinal? Recentemente, tivemos um boom na literatura e no cinema erótico. Filmes como Cinquenta Tons de Cinza despertaram o desejo e a curiosidade sobre sexo e fetiches. Mas será que, na vida real, as coisas acontecem dessa forma? Jovens universitárias realmente encontram homens jovens, lindos e bilionários com um quarto asséptico repleto de apetrechos incomuns? Sexo é, de fato, algo estético, embalado por uma bela trilha sonora, com corpos magros e torneados se movendo em perfeita sincronia?
Babygirl nos responde que não. Enquanto muitos ficaram chocados, eu achei a obra uma experiência genuína sobre o que significa o sexo e todas as suas nuances. O que nos atrai enquanto animais selvagens sedentos pelo toque do outro? Beleza? Dinheiro? Juventude?
Romy é uma mulher poderosa enquanto Samuel não passa de um estagiário cínico, mas ele possui algo que ninguém mais tem: o poder de tirá-la do controle e, em contrapartida, dar a ela a única coisa que lhe é inacessível: prazer. Esse é o cerne da excitação do jogo sexual em que todos estamos inseridos, de alguma forma.
Achei Babygirl extremamente delicado, bonito e cru. Uma experiência que vai além das caixinhas onde tentamos esconder nossos desejos. O filme aborda relações de poder, fetiches, a forma como lidamos com nossas privações e o que realmente conseguimos controlar. E, claro, levanta uma questão importante: mulheres mais velhas têm direito ao fetiche?
Muitos classificaram Babygirl como um mero filme sexual, mas a verdade é que, depois dele, jamais tomaremos leite da mesma forma. O filme, é claro, tem suas falhas, mas elas não se sobrepõem à maestria com que Reijn nos mostra que nossa sexualidade é ridícula, estranha e, por que não, incomum? Nossas fantasias não habitam o politicamente correto e não podem ser domesticadas. Por isso, talvez, o filme seja tão incômodo para os mais conservadores.
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