SOFRI UM ABORTO ESPONTÂNEO
06.10.2020

Aborto. Uma palavra tão pesada! Não tem um jeito bonito ou legal de falar isso, não tem como dar voltas. É assim, exatamente como acontece: rápido e dolorido.
Sempre quis falar sobre o assunto, mas não tinha certeza sobre como iria fazer isso. É uma ideia que cutuca o meu cérebro porque quando aconteceu comigo eu li muitas coisas que me confortaram e achei que devesse fazer isso para confortar também.

Foi em 2018, está fazendo dois anos agora.
Eu sempre quis ser mãe, ter familia grande, quatro filhos! Casei jovem e as tentativas aconteciam ocasionalmente, às vezes planejadas, outras nem tanto.
Eu tinha acabado de voltar de São Paulo, era a semana do meu aniversário, minha menstruação não tava atrasada, mas meu parceiro na época tinha certeza.

O sonho

Fiz o teste e não tive dúvidas, foi bem claro, uma explosão de hormônios, duas listras MUITO fortes. As semanas seguintes foram de idas ao médico, muitos exames e agulhadas a perder de vista, mas ainda não podiamos fazer ultrassom porque o feto era muito pequenininho e decidimos esperar. Eu estava bem, saudável, mas morria de sono. Eu nunca dormi tanto na minha vida!

Até que chegou o grande dia! No dia que completei doze semanas de gestação (3 meses), seria a primeira vez que eu iria fazer o ultrassom, estava ansiosa para ouvir o coraçãozinho e segundo o app ele estaria do tamanho de um limão!

Na foto da capa, estou com uma cornalina, uma pedra conhecida por ajudar a aumentar a fertilidade

O início do processo abortivo

Acordei com uma manchinha rosa na calcinha, tentei não entrar em pânico, mas sabia que havia um problema ali. Era segunda-feira, e desde sábado eu estava sentindo um certo desconforto. Nâo falei nada com ninguém, ia comentar na consulta naquela tarde com o médico.

Mas algo deu errado e o médico não apareceu e eu contei para minha mãe e meu parceiro o que estava acontecendo.
Fui para o hospital, fiquei o dia todo para ser atendida, até finalmente ter o meu tão sonhado ultrassom.

O moço que conduziu o exame fez uma cara esquisita e me mostrou o que estava na tela. Tudo estava ali, como em qualquer outra mulher grávida, menos o bebê. Fiquei paralisada, mas ele tentou e tranquilizar dizendo que talvez ele estivesse pequeno demais e que eu poderia ter errado o cálculo, mas eu sabia que não.

Esperando para apresentar as imagens pro médico, eu desabei. Uma equipe me atendeu, disseram pra eu ficar de repouso absoluto e tomar uma medicação que poderia segurar a gestação até terem certeza de que eu estava sofrendo um aborto mesmo.

Fui pra casa e foi horrível ver todo mundo chorando, meu parceiro ligando pros pais dele, minha irmã me confortando.
Foi a semana mais triste da minha vida, eu sentia muita dor e sabia que aquilo seria em vão.

Dia após dia, a dor piorava de um jeito que nenhuma medicação ajudava, até que no banho, quatro dias depois da consulta, uma bolsa de sangue estorou e eu efetivamente comecei o processo do aborto, nunca tinha visto tanto sangue na minha vida e nem sentido tanta dor.

Fui pro hospital onde precisei fazer uma curetagem, procedimento que limpa os residuos do útero para que a paciente não tenha nenhuma complicação. E quando parei de sentir a dor física, fechei tudo num pacotinho e segui minha vida.

Tentando superar

Tudo aconteceu numa sexta-feira, sai do hospital sábado e fora um pouco de inchaço na região vaginal, tudo parecia perfeitamente em ordem comigo. Almocei com a minha família e na segunda-feira já fui trabalhar e voltei para faculdade. Mas todas as noites chorava baixinho, meu parceiro acordou umas vezes, quando era demais segurar.

Me perguntei os motivos, me senti falha, senti vergonha, me culpei, me senti inútil por meses. Até que um ano depois procurei ajuda psicológica e as coisas começaram a fazer mais sentido.
Então se você está passando por isso, saiba que não existe explicação para um aborto, simplesmente acontece. É horrível, a gente sente que só outra pessoa que passou por isso é capaz de entender, talvez seja, mas as pessoas vão fazer de tudo para tentar entender.

Não se feche, as pessoas querem te ajudar de verdade e ninguém vai te julgar pelo seu sofrimento. Se apegue no que você acredita, eu me confortei ao ter uma explicação espiritual. Só não deixe que a dor tome conta de você, procure um profissional, se necessário.
Você é perfeitamente normal, abortos na primeira gestação são mais comuns do que imaginamos.

Espero que você não perca a esperança e saiba que não deixou de ser mãe porque sua gravidez não vingou, você foi escolhida para acolher alguém que ainda não estava pronto para vir ao mundo <3
Um abraço muito apertado, eu juro que a dor melhora com o tempo.

Beijos e até a próxima!

1 comentário

  • Sara Lacerda disse:

    Obrigada por compartilhar esse momento amiga, sei que será importante e necessário pra muitas meninas que passam pelo mesmo, você é incrível e eu te amo.

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