HISTÓRIAS DE VÓ (A. AGNES)
04.11.2025

Histórias de Vó uma das resenhas mais difíceis que já precisei escrever, não porque o livro seja complexo, mas porque eu temia ser injusta. Medo de parecer tendenciosa, medo de acharem que eu estaria elogiando em benefício próprio. Mas a verdade é simples: deixar de falar sobre Histórias de Vó seria um desperdício. Esse livro é um tesouro da nossa história e merece ser lido, celebrado e protegido.

Pra você que ainda não sabe, eu fui, com muito orgulho, a revisora desse trabalho. Confesso: tive medo de aceitar. Tive medo de ter que dizer que não era bom. Mas bastaram as primeiras páginas para esse receio ir embora. Quando percebi, já estava completamente mergulhada em um dos projetos mais emocionantes e especiais da minha carreira.

Histórias de Vó nos conduz por mistérios, segredos e memórias ancestrais do cerrado, atravessando gerações por meio de oito narrativas fantásticas inspiradas em mulheres lendárias: nossas avós.

As avós

A avó Adélia nos revolta com a lenda da caninana, uma cobra que seca o leite de mulheres no puerpério.
A vó Apolônia conversava com Deus e me deixou inquieta com o mistério por trás da morte precoce do marido.
Confesso que a avó Laurentina me testou com suas repetições infinitas, mas é impossível não reconhecer a beleza de sua história, tão profundamente ligada ao Jalapão.

Meu conto favorito, no entanto, é o da vó Romana. Li e reli muitas vezes por causa do trabalho, e nenhuma leitura terminou sem lágrimas. Acompanhar sua trajetória, desde a infância até a maternidade numerosa e sofrida, é de cortar o coração e também de inspirar.
A avó Francisca me presenteou com o que carinhosamente apelidei de Grey’s Anatomy dos povos originários: um romance entre uma enfermeira e um indígena.
A indomável vó Bernardina, conhecida como Onça-velha, é o retrato perfeito de coragem e reinvenção na velhice. Já a vó Flora vai arrepiar quem ama mistério, ela conversava com a morte e fez algo que até Deus duvida. E para fechar, a vó Jandira, que me arrancou boas risadas com a lenda da caça pela botija de ouro.

O que eu achei

Eu amei todas as histórias, sem exceção. Realismo fantástico, tradições orais, lendas, dor, resistência e um orgulho ancestral pulsa em cada página. Histórias de Vó é um livro para se ler devagar, para se acolher, para se lembrar das mulheres que vieram antes de nós. É uma obra que merece prêmios, prateleiras, discussões e principalmente, leitores.

Que ele nos faça refletir sobre como tratamos nossas mulheres, nossas anciãs e nossa própria história.
E que nos inspire a sentar, sempre que possível, ao lado de uma velhinha para ouvir as melhores histórias do mundo, as que só elas podem contar.

Nenhum comentário

Deixe seu comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

@lumiconunes